terça-feira, 30 de outubro de 2012

Sobre algo (e algoz)


No país que vale ser imbecil ou cínico (ou ainda, ambos), um novo tipo de fascismo – aquele dos herdeiros de senhor de escravos recalcados – bate à porta com toda força, mesmo que à espreita. Do lado de cá, aqueles que se isentam, por meio da arte retórica, da realidade – e até se esforçam muito para isso, fazem mestrado, doutorado, pós-doc na França e tudo mais! – criam uma outra realidade para si, a partir do umbigo. São aparentados à Alice. Ou mesmo, se  filosoficamente falando, à Montaigne – não, talvez, à sua teoria, mas à sua atitude de não descer de sua torre de marfim enquanto o mundo desaba. Aliás, desaba, desafiando as leis físicas: a torre continua em pé mesmo sem chão. Por um lado, o completo imbecil (que é ruim, problemático, proto-escravocrata de espírito e por coisificação), que alardeia sua pseudoparticularidade como um universal mal resolvido. Pernicioso por si só, pois encarna o “espírito do mundo” com toda força e sem restrições. Por outro lado, o cínico que, entre outras coisas, se isenta de tudo obliquamente. No entanto, o mais nocivo é o que abarca ambos em um só. Apesar de se isentar de tudo obliquamente, numa virada quase dialética, retorna, de sua isenção oblíqua, com os cantos dos lábios escorrendo baba espumenta de imbecilidade. Ele não leva o movimento da realidade em consideração e, em contrapartida, ataca-a funestamente com sua verdade imaculada. Sua posição, na torre, apolítica, é bem cinicamente política, por mais que despolitizada. Sua sagacidade acadêmica o faz desviar, em tentativa, de toda crítica da qual ele não consegue escapar: ataca, como um cão de quintal. Suas vontades particulares desfeitas, não feitas, contrariadas – assim como ocorre com a criança mimada que vive toda sua existência na primeira infância – ele berra aos quatro ventos seu descontentamento objetivamente cínico: é quase uma forma perfeita platônica, está para além da realidade e se posiciona como verdade  fora da esfera de atrito. Isso Gramsci já havia dito do intelectual tradicional. E enquanto seu posicionamento –  cinicamente imbecil, ou sua imbecilidade cínica – se dá para além da realidade, como falcatrua, impõe sua verdade de escravocrata recalcado (os mais cultos chamam reacionário) por meio do contato de sua baba espumenta raivosa com o público (que têm ouvidos, por mais que, como diz minha mãe, pareçam penicos). Que país é esse? Dizia alguém. É o país do imbecil, do cínico, e do intelectual babão que se preocupa com as mazelas da segunda guerra mundial e não consegue sequer debater 400 anos de escravidão (legal) e etc.. É o país no qual idiotice proferida por idiota, é idiotice; dita por intelectual é teoria. 

Subsolo!

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